domingo, 27 de março de 2011

Diversas informações sobre estudos sociais.


ESTUDOS SOCIAIS
História e Geografia: identidades e singularidades
 Na abertura do documento de História e de Geografia dos Parâmetros Curriculares Nacionais encontra-se um breve apanhado sobre a trajetória do trabalho com os chamados Estudos Sociais. Na página 26, encontramos a seguinte informação:
A consolidação dos Estudos Sociais em substituição à História e à Geografia ocorreu a partir da Lei n. 5.692/71, durante o governo militar. Os Estudos Sociais constituíram-se, ao lado da Educação Moral e Cívica, em fundamentos dos estudos históricos, mesclados por temas de Geografia centrados nos círculos concêntricos. Com a substituição por Estudos Sociais, os conteúdos de História e Geografia foram esvaziados ou diluídos, ganhando contornos ideológicos de um ufanismo nacionalista destinado a justificar o projeto nacional organizado pelo governo militar implantado no país a partir de 1964.
As transformações nos currículos e nos métodos de ensino advindas da oficialização dos Estudos Sociais acabaram gerando certos mitos que permanecem até os dias de hoje, limitando as propostas de trabalho com as áreas de História e Geografia.
Um destes mitos tem como pressuposto a relação entre o trabalho, o estudo das sociedades e as etapas do desenvolvimento psicológico da criança. Acredita-se, assim, que os alunos do primeiro e do segundo ciclos do Ensino Fundamental não têm, a princípio, condições de compreender e de relacionar temas que abranjam escalas de tempo e espaço para além do tempo presente e do espaço vivido. A comunidade e o bairro são a base para os estudos iniciais. Assuntos relacionados à história do mundo ou à geografia de lugares distantes não devem, portanto, ser abordados justamente porque são considerados distantes e abstratos pelas crianças.
O que é preciso considerar, a partir da própria proposta dos PCN, é que, mesmo antes do ingresso na escola, a criança observa, pergunta e procura explicar os fenômenos sociais e naturais que observa em seu dia-a-dia. Na escola é importante que o aluno possa ampliar, rever, reformular e sistematizar as noções que construiu (e constrói) de forma espontânea, através da aprendizagem de conteúdos de Geografia e de História.
É claro que este processo de ampliação, reformulação e sistematização não se consolida nesse segmento da escolaridade. Afinal, ele representa uma construção gradativa, que ocorre na medida em que os alunos aprendem a observar, descrever, comparar, explicar, representar e espacializar acontecimentos sociais e naturais de forma cada vez mais genérica, considerando dimensões de tempo cada vez mais amplas, para além do tempo presente.
As propostas voltadas para o ensino específico de Geografia e História desde às séries iniciais introduziram seus conteúdos e métodos particulares e também uma nova forma de compreender o pensamento da criança com relação aos fenômenos sociais. A dissolução dos Estudos Sociais e a retomada destas áreas é resultado das lutas de professores, educadores e especialistas, como o próprio texto dos PCN de História nos apresenta (ver páginas 26 e 27). Por outro lado, os avanços da psicologia cognitiva nos indicam que aquilo que é intelectual e afetivamente interessante às crianças não necessariamente tem relação direta às escalas de tempo e de espaço de seu cotidiano. Pelo contrário. Muitas vezes as crianças, mesmo sem condições de compreender o assunto do ponto de vista de sua temporalidade e espacialidade, interessam-se por temas como os animais da pré-história, a vida no tempo dos castelos, a paisagem das florestas tropicais ou dos desertos etc. Do ponto de vista didático, a introdução destas áreas nos primeiros ciclos envolve a compreensão de um modo de pensar e de explicar o mundo pautado em noções, conceitos, procedimentos e princípios através dos quais as crianças constroem os seus próprios saberes.
Estudar História é compreender como o conhecimento histórico é constituído e saber relacionar esse conhecimento com a época e os autores que o construíram. É também saber utilizar os conceitos e as explicações com as quais esse saber opera para compreender o presente, ou melhor, entender o presente a partir de dimensões de tempo mais amplas. A concepção de que o ensino de História deve trabalhar apenas acontecimentos políticos ou econômicos ocorridos num passado distante deve, portanto, ser superada.
A aprendizagem do conhecimento histórico pode e deve ocorrer desde os primeiros ciclos. Na escola, o professor pode ensinar os alunos, além de fatos e conceitos, diferentes conteúdos que permitam ao aluno construir essas compreensões. Como?
§     através de situações que promovam a comparação entre diferentes versões de um mesmo acontecimento;
§     por meio da consulta a uma variedade de fontes (de forma que o aluno compreenda, inclusive, o que é uma fonte de informação para a elaboração do conhecimento histórico);
§     desenvolvendo a percepção da presença de outros tempos no tempo presente;
§     por meio do conhecimento de fatos não apenas econômicos ou políticos, mas também sociais e culturais e pelo conhecimento dos diferentes agentes da História, não apenas os heróis ou governantes;
§     desenvolvendo a compreensão de que o tempo histórico não é linear e tampouco homogêneo, mas sim um tempo múltiplo, que indica mudanças, mas também permanências.
Assim, os temas eleitos para o estudo da História podem envolver assuntos relacionados ao cotidiano, à trajetória de famílias, à memória dos mais velhos, à arte, ao folclore e às tradições culturais brasileiras, aos diferentes povos que formam o povo brasileiro, além de problemáticas da atualidade.
Estudar Geografia, por sua vez, é estudar a paisagem, buscando compreender as relações entre os processos históricos que formaram as sociedades humanas, procurando entender o funcionamento da natureza e como as sociedades se relacionaram com a natureza através dos tempos sociais. Para entender a paisagem, é preciso aprender a lê-la, percebendo-a como o resultado de múltiplos espaços e tempos geográficos.
Para tanto, é preciso observar, buscar explicações para aquilo que, numa determinada paisagem, permaneceu ou foi transformado, isto é, os elementos do passado e do presente que nela convivem. A percepção espacial daqueles que moram nos diferentes lugares é marcada por laços afetivos e referências socioculturais. Nesta perspectiva, ao ler a paisagem estamos identificando como os homens em sua trajetória histórica construíram as diferentes paisagens.
A leitura da paisagem pode ser feita desde diferentes recortes temáticos: temas mais relacionados aos aspectos biofísicos das paisagens (mencionadas as relações de interação que mantêm com os aspectos socioculturais, econômicos e políticos); temas mais relacionados aos aspectos socioculturais das paisagens (a percepção e relação que diferentes grupos e povos possuem na construção de seu espaço); ou, ainda, econômicos ou políticos (como são as temáticas relacionadas com a interação e a comunicação existente entre diferentes localidades).
Aqui, é importante ressaltar que a interface existente entre o ensino da História e da Geografia pode e deve ser considerada. Neste sentido, é fundamental que o professor ofereça aos alunos um conjunto de situações de aprendizagem que suscitem problemas, sempre considerando diferentes escalas de tempo e espaço. Esta dimensão da problematização favorece o trabalho com temas que podem ser abordados tanto do ponto de vista da História como da Geografia. Afinal, o mais interessante é que os alunos aprendam a relacionar aquilo que acontece em seu dia-a-dia e que percebam o modo de ser e viver do seu grupo social, comparando com acontecimentos ocorridos em outros lugares e em outros tempos, que caracterizam (ou caracterizaram) o modo de ser e viver de outros grupos sociais.
A sociedade e a integração com as outras áreas
Promover a ampliação do conhecimento dos alunos a respeito de temas de inquestionável valor para a sociedade atual é um dos objetivos do ensino da História e da Geografia. Por isto, sempre que possível, os conteúdos trabalhados nas aulas de História e de Geografia devem enfocar explícita ou implicitamente temas relacionados à ética, à saúde, ao meio ambiente, ao trabalho e consumo, à diversidade cultural e natural que caracteriza nosso país e o mundo como um todo. Isto representa um trabalho com os chamados temas transversais, tal como os Parâmetros Curriculares Nacionais propõem.
A fim de promover discussões e de favorecer o desenvolvimento de uma atitude mais propositiva frente aos temas abordados, é interessante envolver os alunos em atividades nas quais são convidados a informar, comunicar e até mesmo convencer os colegas, os funcionários da escola, os familiares e a comunidade mais ampla da qual fazem parte sobre assuntos ou problemas relativos à conservação do ambiente, à relação entre qualidade de vida e saúde, à valorização da diversidade cultural e natural, ao ingresso no mundo do trabalho e às desigualdades sócio-econômicas.
É importante desenvolver projetos que envolvam temas que possibilitam mudanças nas atitudes e nos valores dos próprios alunos. Os cuidados com a saúde e o bem-estar físico e emocional, a preservação e conservação do ambiente escolar, os problemas ambientais que a comunidade sofre, os distintos modos de ser e viver do povo brasileiro são alguns temas sugeridos. A finalização desses projetos envolve a organização de campanhas cujo público alvo é a própria comunidade escolar, ou seja, os colegas, os funcionários da escola, os pais e familiares.
O professor como modelo
No trabalho com a História e a Geografia, os alunos são colocados em situações nas quais têm de aprender a estudar. É necessário que aprendam a ler, ouvir, perguntar, consultar, registrar e organizar as informações obtidas através de textos, imagens ou até mesmo da exposição do professor. É também necessário aprender a reapresentar os conhecimentos adquiridos através da escrita, da exposição oral, ou ainda de desenhos. Além disso, aquele que estuda observa, experimenta, compara, descreve, troca idéias, sintetiza.
Para proceder dessa maneira, os alunos necessitam da ajuda do professor para ler, escrever, discutir, pesquisar e organizar as informações que obtêm. O professor tem, então, um papel fundamental, pois cabe a ele promover a aprendizagem desses procedimentos, através de situações nas quais os alunos tenham a oportunidade de efetivamente atuarem como estudantes.
Além disso, o professor serve também como modelo de estudante para as crianças. As perguntas que ele faz sobre as diferenças entre os modos de viver de grupos sociais distintos, por exemplo, servem como referência para os alunos em relação a quais tipos de perguntas são pertinentes de serem feitas em um estudo sobre este tema e quais não são pertinentes; a forma como ele classifica diferentes paisagens e organiza essa classificação em um painel é um indicador para os alunos de como pode ser planejada uma classificação.
É importante, assim, que o professor atue como "estudante" de Geografia e de História, compartilhando com os alunos suas idéias, dúvidas, explicações e formas de pesquisar. Também os seus medos, preconceitos e idéias equivocadas podem ser divididos com os alunos de forma espontânea, mas intencional. Isto indica ao aluno que não é apenas ele que erra, tem idéias equivocadas ou ainda medos e preconceitos.
Conclusão
O trabalho com a História e a Geografia desde as séries iniciais envolve conteúdos e procedimentos específicos de cada uma destas áreas. Na seleção e organização dos conteúdos, o professor deve considerar o fato de não haver necessidade de se seguir uma escala espaço temporal - os chamados círculos concêntricos -, afinal seus alunos podem manifestar interesse e compreender temas os mais variados, abrangendo épocas passadas e lugares distantes. Outro aspecto a ser ressaltado é a possibilidade de se abordar estas áreas de forma integrada, por meio de projetos. Neste contexto, é interessante também incorporar temas socialmente relevantes (temas transversais, conforme definição dos PCN) e considerar a interface com a Língua Portuguesa. O professor deverá considerar que a aprendizagem da História e da Geografia envolve procedimentos relacionados à formação do estudante e que ele próprio também atua como um estudante e serve como modelo aos seus alunos.
O ensino da Geografia
Os Parâmetros Curriculares Nacionais para o ensino da Geografia propõem que, ao longo do primeiro e do segundo ciclos do Ensino Fundamental, sejam trabalhadas as categorias de lugar, paisagem e território. Para o professor deste segmento da escolaridade, na maioria das vezes não especializado na área, é muito importante ter clareza quanto ao significado destas categorias. O conhecimento dos fatos, conceitos e procedimentos específicos desta área tem sido, assim, condição para que ele possa planejar suas aulas e definir as aprendizagens de seus alunos.
Para a Geografia, a categoria território refere-se ao espaço apropriado pela sociedade por meio do trabalho humano. Ou seja, refere-se ao conjunto de objetos naturais (vegetação, clima etc.) e mais aqueles construídos pelos seres humanos, como edificações das cidades ou do campo, estradas, reservatórios de água, o fluxo de mercadorias ou de serviços etc.
À percepção desse conjunto pela visão chamamos paisagem. É importante que os professores compreendam que cada paisagem é um todo, que pode ser compreendido desde as suas partes. Enquanto totalidade, a paisagem envolve componentes naturais e humanos e, sobretudo, a maneira como apreendemos esses componentes.
Na leitura da paisagem, nos aproximamos de diversas - e não raras vezes diferentes e divergentes - maneiras de apreensão e compreensão da paisagem, expressas nos sentimentos e na memória das pessoas, nos textos científicos sobre o lugar, na literatura, no modo de vida das pessoas. Essa apreensão está relacionada também às nossas referências, ou seja, àquilo que conhecemos de antemão, às nossas vivências, à nossa maneira de perceber e compreender o mundo.
Ao entrar em contato com uma paisagem, procuramos observá-la, descrevê-la, compará-la com aquilo que conhecemos, explicá-la. Esses procedimentos, na escola, devem ser ampliados. É preciso ensinar aos alunos a perceber uma paisagem não apenas por meio daquilo que nela podemos enxergar, mas também através dos sons, das cores, dos cheiros que nela percebemos. Principalmente, devemos ensinar aos alunos a olhar a paisagem observando além daquilo que percebemos de mais imediato, analisá-la de maneira intencional e procurar explicá-la.
Nem sempre as explicações que construímos dão conta da totalidade da paisagem. Nem sempre temos a intenção de abarcar essa totalidade. Às vezes nos interessam apenas alguns aspectos da paisagem. O recorte que fazemos da paisagem depende do tema que nos propomos a estudar e também dos objetivos que temos com este estudo.
Outro conceito fundamental é o de lugar. O lugar é a dimensão da nossa ligação e identidade com as paisagens. Por isto, dizemos que o território abrange a paisagem e o lugar, ou seja, não apenas o que vemos, mas o que sentimos, o que nos faz pertencer à paisagem.
A leitura da paisagem
Nos primeiros ciclos, o trabalho com esta categoria pode acontecer por meio da chamada leitura da paisagem, ou seja, por meio da observação, da problematização, do registro, da análise e da explicação. Estes são procedimentos que os alunos podem construir, inicialmente com a ajuda do professor, por meio de atividades como estudos do meio e projetos. Aqui, o importante é considerar que a leitura da paisagem é permeada pelas experiências daqueles que a observam e que uma mesma paisagem pode ser compreendida de diferentes formas.
O papel da observação
Observar é um procedimento fundamental no estudo da Geografia. Distingue-se das observações que fazemos em nosso dia-a-dia pois é orientado pelas intenções do observador, que busca através do olhar respostas a determinados tipos de problemas. Desenvolver a capacidade dos alunos de observar o seu entorno social e natural é um dos objetivos do ensino dessa área.
Para tanto, o professor deve considerar a possibilidade de os alunos observarem de forma direta e indireta. Direta quando há contato direto com o objeto que está sendo observado, como as construções que marcam a paisagem do bairro ou as roupas que se vestiam em outros tempos. Indireta quando o objeto encontra-se representado através de diferentes linguagens - mapas, gráficos, esquemas, fotografias, vídeos ou gravuras.
Aqui, o papel das imagens merece ser destacado. Buscar informações através da leitura e interpretação de ilustrações e fotografias é um procedimento importante. O desenvolvimento de um sentido estético também é considerado fundamental, por isso o professor deve oferecer aos alunos um conjunto de imagens diversificado e de qualidade.
É importante ressaltar, porém, que as imagens não falam por si mesmas. Elas precisam ser interrogadas em função do problema que está sendo pesquisado. Elaborar questões sobre as imagens, incentivar os alunos a trocar suas impressões sobre elas, confrontá-las com as informações apresentadas nos textos que as acompanham e compará-las com outras imagens são sugestões de encaminhamentos. Além disto, as imagens podem servir como tema para a produção de textos, sejam eles legendas - caso os alunos estejam em processo de consolidação da base alfabética - ou notícias de jornal, folhetos informativos, cartazes etc.
O trabalho com documentos
O trabalho com documentos é especialmente importante no ensino de Geografia, pois através dele os alunos podem compreender os conhecimentos geográficos enquanto uma elaboração humana, realizada por pessoas em determinados contextos. Para conhecer um lugar é preciso ter acesso a fontes documentais, que forneçam pistas para aquele que realiza a pesquisa construir seu conhecimento.
Na escola, é importante trabalhar com uma diversidade de documentos desde as séries iniciais. Documentos são depoimentos de pessoas comuns e especialistas, fotografias, gravuras, mapas, documentos oficiais, trechos de livros literários, notícias de jornais e revistas, apresentados sem reduções ou simplificações que comprometam seu valor informativo. O professor, é claro, pode atuar como mediador entre os alunos e os documentos oferecidos, incentivando-os a construírem suas próprias interpretações.
É importante ressaltar que os documentos não representam a "verdade" sobre uma determinado lugar. Eles revelam - ou fornecem pistas para aqueles que os consultam - parte da realidade passada ou presente. Estão impregnados pelos valores daqueles que os produziram e os conservaram. Por isto mesmo é fundamental ensinar aos alunos a ter uma posição mais interrogativa e crítica frente aos documentos, incentivando-os a refletir sobre as intenções daqueles que os elaboraram e os motivos pelos quais foram preservados.
O ensino da cartografia nas séries iniciais
Quando consideramos o acesso cada vez maior às informações, podemos perceber a importância que a imagem tem nos dias de hoje. Dentre estas imagens, os mapas representam e sintetizam informações históricas, políticas, econômicas, físicas e biológicas de diferentes lugares do mundo e do espaço. No passado, eram documentos confidenciais, que circulavam somente entre aqueles que participavam do poder dominante. No presente, é fundamental conhecer o funcionamento e as diferentes funções dos mapas e saber utilizá-los para resolver problemas cotidianos ou intelectuais. Não apenas porque isto nos ajuda a compreender as transformações e os problemas do mundo atual, mas também porque nos permite usufruir com liberdade e segurança um dos direitos universais do homem, garantidos pela nossa Constituição de 1988: o direito de ir e vir.
Ensinar os alunos a ler e obter informações em diferentes tipos de mapas é uma forma de promover a construção de procedimentos que lhes permitem localizar objetos e lugares para se deslocarem com sucesso por cidades e bairros desconhecidos e também por locais públicos - tais como shopping-centers, hospitais e museus. Esses procedimentos também lhes possibilitam utilizar os mapas enquanto fontes de pesquisa que sintetizam informações sobre lugares, regiões e territórios de diferentes partes do Brasil e do mundo. Aprender a ler mapas, bem como saber utilizá-los como uma representação do espaço que segue as regras de vários sistemas de projeção e tem uma linguagem específica, é essencial para a formação do cidadão autônomo.
A utilização dos mapas e do atlas na sala de aula justifica-se justamente pelo papel que a cartografia tem no mundo contemporâneo. Assim, desde os ciclos iniciais, os alunos podem ter contato com diferentes tipos de mapas e seu portador por excelência, o atlas. Esse contato, porém, não deve ser casual ou esporádico. Deve ocorrer conforme um planejamento sistemático do professor, em função dos conhecimentos que os alunos dessa faixa etária podem construir a respeito desse conteúdo.
Em seu planejamento, o professor pode elaborar atividades que privilegiem dois eixos de trabalho: o da produção e o da leitura de mapas. Esses dois eixos podem ocorrer de forma simultânea, pois não há necessidade de que os alunos aprendam primeiro a produzir para depois aprender a ler e consultar mapas, ou vice-versa.
O eixo da produção pode ser planejado a partir de atividades bastante simples, como desenhar objetos do cotidiano (um livro, um balde, uma cadeira, o material escolar, por exemplo) e lugares. A sala de aula, a escola, a casa e todos aqueles espaços que as crianças conhecem do ponto de vista de sua distribuição espacial constituem lugares adequados para que elas os representem.
É fundamental que o professor questione os desenhos produzidos pelos alunos em função da forma, tamanho, posição, orientação, distância, direção e proporção dos objetos e lugares representados. Esse questionamento pode ser realizado através do confronto com a própria realidade. O trabalho com os pontos cardeais ganha aqui um contexto, pois o conhecimento dos pontos imaginários (Norte, Sul, Leste e Oeste) que determinam as principais direções na superfície da Terra é de extrema relevância para aprender a posicionar e orientar aquilo que está sendo representado.
As atividades de desenhar o entorno podem ser planejadas também considerando diferentes perspectivas, não apenas a horizontal. É interessante desafiar os alunos a desenharem como se estivessem tendo uma visão vertical de um objeto ou lugar, ou seja, como se estivessem olhando de cima para baixo; ou ainda a desenharem objetos e lugares, como se estivessem observando-os de cima e um pouco de lado (tal como a visão que as pessoas têm de uma cidade quando a olham da janela de um avião). Esses desafios são oportunidades para que eles construam noções relacionadas às técnicas de projeção comumente utilizadas pelos cartógrafos e compreendam como ocorre a representação gráfica do espaço.
O uso dos elementos da linguagem gráfica por meio da qual a Cartografia é construída - tais como cores, linhas, pontos e outros símbolos - pode ocorrer na medida em que o professor convidar seus alunos a representarem objetos e lugares de forma simplificada e esquemática. Isso constitui um novo desafio, para o qual os alunos terão que criar símbolos e utilizar cores para indicar o que está sendo representado, sem fornecer detalhes a seu respeito.
É importante lembrar que essas atividades tornam-se mais significativas para os alunos quando são realizadas em contextos de comunicação. Ou seja, é importante que os alunos representem um objeto ou lugar para comunicar algo para alguém. Dessa forma, eles estarão aprendendo também sobre a função social e científica que os mapas possuem: a de transmitir informações.
Nesse sentido, o professor pode planejar situações nas quais os alunos tenham que representar a própria casa, com o objetivo de mostrar aos colegas como ela é, ou a própria escola, com o objetivo de informar a distribuição de suas dependências para um visitante que não a conhece. O professor pode ainda organizar brincadeiras, como a caça ao tesouro - na qual os alunos, reunidos em grupos, produzem mapas para que as crianças dos outros grupos localizem um objeto escondido.
O eixo de leitura de mapas também deve ocorrer de forma contextualizada. Os alunos podem consultar mapas políticos ou ainda de relevo, clima ou vegetação para obter informações a respeito de lugares ou assuntos que estejam estudando. Consolida-se, assim, um trabalho no qual existe a interface entre o ensino da cartografia e as demais áreas do currículo. Os alunos aprendem a reconhecer os mapas e o atlas como fontes preciosas de informação.
É importante que os alunos vivenciem situações nas quais comparem as informações representadas em diferentes tipos de mapas e estabeleçam relações entre fenômenos variados. Um exemplo disso é a comparação entre as informações contidas em um mapa que trate das formas de relevo de uma determinada região e outro que informe sobre a distribuição da população que aí vive. Nesse caso, o professor pode incentivar os alunos a estabelecerem relações e formularem explicações sobre esse assunto.
O professor pode trabalhar também com planos, plantas de construção, cartas de cidades e imagens de satélite. Ensinar a consultar um guia de rua, um mapa rodoviário, a planta de uma casa, o painel com as linhas do metrô ou com a distribuição das lojas de um shopping-center são objetivos de aprendizagem que o professor pode prever em seu planejamento.
Essas aprendizagens podem ocorrer através de situações nas quais os alunos sejam desafiados a ler para obter informações. O professor pode utilizar como suporte para suas aulas mapas e cartas que são publicados em jornais e revistas, ou ainda impressos em folhetos de propaganda.
A compreensão das legendas merece atenção especial, pois elas fornecem as explicações necessárias para que os alunos trabalhem com as informações contidas nessas outras formas de representação. Sempre que julgar oportuno, o professor deve incentivar que seus alunos leiam as legendas e tentem compreendê-las.
Outra possibilidade de trabalho é a leitura e a comparação das informações contidas em mapas feitos em diferentes épocas, através de um projeto de estudo que envolve a história da cartografia. Neste projeto, os alunos seriam convidados a refletir sobre a diversidade de conteúdos e técnicas que pode ser percebida nos mapas estudados, a estabelecer relações entre épocas e acontecimentos, principalmente aqueles relacionados ao período chamado de as "Grandes Navegações".
Conhecer e utilizar diferentes tipos de mapas e o atlas, sem dúvida alguma, podem ampliar as possibilidades dos alunos de extraírem e analisarem informações relacionadas a diferentes áreas de conhecimento - além de contribuir para que eles consolidem uma noção de espaço flexível, abrangente e relacional. Aprender a espacializar os fenômenos estudados e a comparar essa espacialização através da sobreposição das informações contidas nos mapas é algo que a própria Geografia, enquanto ciência, busca fazer e que os alunos do ciclo inicial também podem realizar.
Dicas de atividades
LER E COMPARAR AS INFORMAÇÕES DE UM MAPA POLÍTICO COM AS INFORMAÇÕES CONTIDAS EM OUTROS TIPOS DE MAPA: HIDROGRÁFICO, DE VEGETAÇÃO, DE CLIMA, UM GUIA DE RUAS ETC.
Nesse caso, é interessante que:
·                     os alunos leiam mapas e extraiam informações das legendas dos mapas, conversando entre si e com o professor sobre o que os mapas estão representando;
·                     eles copiem o mapa político em uma folha de papel vegetal, para que essa sobreposição possa ocorrer de fato;
·                     o professor coloque questões para os alunos, de modo que a comparação das informações tenha um significado mais amplo para os alunos - e não seja um mero exercício.

FAZER MAPAS PARA REPRESENTAR AQUILO QUE FOI ESTUDADO, SINTETIZANDO AS INFORMAÇÕES ATRAVÉS DA INVENÇÃO DE LEGENDAS
Nesse caso, é interessante que:
·                     os alunos escolham os temas que vão representar, o que pode ser feito com a ajuda do professor;
·                     utilizem os mapas convencionais como base para a elaboração de suas representações;
·                     façam essa representação no contexto maior de um produto: uma exposição, um livro, um cartaz, um folheto informativo etc.;
·                     elaborem legendas, utilizando símbolos, cores e padrões de letra próximos aos convencionais.

LER E COMPARAR AS INFORMAÇÕES DE MAPAS FEITOS EM DIFERENTES ÉPOCAS
Nesse caso, é interessante que:
·                     os alunos leiam mapas políticos atuais e extraiam informações das legendas dos mapas, conversando entre si e com o professor sobre o que os mapas estão representando;
·                     os alunos leiam mapas antigos e extraiam informações dos mapas, conversando entre si e com o professor sobre o que os mapas estão representando;
·                     o professor coloque questões para os alunos, de modo que a comparação das informações tenha um significado mais amplo para os alunos - e não seja um mero exercício;
·                     leiam biografias e textos informativos relacionados às personagens e fatos da época das Grandes Navegações (Cristóvão Colombo e a descoberta da América, por exemplo).

Na atividade de comparação entre mapas atuais e antigos, as seguintes questões podem ser feitas pelo professor:
·                     O que está representado nesse mapa (mapa atual)?
·                     Como vocês acham que esse mapa foi feito?
·                     Esse mapa representa o mesmo lugar que o mapa atual (mapa político do Brasil, por exemplo) mas traz outras informações? Quais são elas?
·                     Qual deles parece ser o mais antigo?
·                     Quais seriam as intenções das pessoas que fizeram esses mapas?
·                     Como será que esse mapa foi feito?

Na atividade de comparação entre mapas antigos, as seguintes questões podem ser feitas pelo professor:
·                     O que está representado nesses mapas?
·                     Quais as diferenças que existem entre um mapa e outro?
·                     Qual deles parece ser o mais antigo? E o mais recente?
·                     Como vocês acham que eles foram feitos?
·                     Quais seriam as intenções das pessoas que fizeram esses mapas?
·                     Comparando os mapas com as informações obtidas nas biografias e nos textos informativos, qual deles parece ter sido feito antes da viagem de Colombo, antes da viagem de Bartolomeu Dias, Vasco da Gama, Cabral e Fernão de Magalhães?
História, Geografia e o ensino da leitura e da escrita
Ao longo do primeiro e do segundo ciclos do Ensino Fundamental, a formação do estudante é concretizada na medida em que as crianças aprendem a utilizar a leitura e a escrita em seus estudos. Afinal, aprender a ler e escrever é algo fundamental e o ensino de Geografia e de História pode potencializar essas aprendizagens, incentivando o contato dos alunos com diferentes tipos de texto, a argumentação oral e o registro escrito dos conhecimentos aprendidos.
A maioria das crianças, quando ingressa na escola, está começando a consolidar uma série de questões relativas à escrita convencional. Embora nem todas dominem o código alfabético, é essencial que tenham a oportunidade de ler e escrever em situações reais, significativas do ponto de vista da aprendizagem. Aprender a ler é aprender a buscar informações em fontes escritas de qualidade; aprender a escrever é aprender a registrar e comunicar informações e conhecimentos, através da produção de textos próprios.
No entanto, é muito comum que na escola o aluno tenha acesso somente ao livro didático e que as atividades de Língua Portuguesa se restrinjam à leitura e à escrita de maneira escolarizada, ou seja, não apresentam vínculo com situações reais de uso e nem promovem o conhecimento de outros registros. Num projeto de História ou de Geografia, os alunos têm contato com diferentes tipos de texto e com situações de comunicação oral variadas. Eles podem, por exemplo, realizar entrevistas para obter dados referentes à história local ou, ainda, utilizar receitas culinárias para conhecer a geografia do lugar onde vivem.
Tornar os alunos experientes no uso da língua implica, necessariamente, colocá-los em diversas situações reais de produção de texto, como, por exemplo, preparar um discurso, fazer uma apresentação para a televisão, escrever um livro de histórias, contar para os colegas uma história que tenha lido ou ouvido etc. O domínio da língua tem estreita relação com a possibilidade de plena participação social, pois é por meio dela que o homem se comunica, tem acesso à informação, expressa e defende seus pontos de vista e também dos outros, partilha ou constrói visões de mundo, desfruta e amplia suas opções de lazer e produz conhecimentos. Para propiciar aos alunos o domínio da língua, é preciso "invadir" a escola com atividades orais e escritas, como uma grande campanha em prol do saber ler, escrever, ouvir e falar com competência.
Uso de recursos tecnológicos nos projetos de trabalho
O trabalho com projetos favorece o uso de recursos tecnológicos por parte dos alunos de forma contextualizada. Ou seja, através de um projeto o aluno pode aprender a usar o rádio, a televisão, o gravador, o computador, o videocassete, a internet etc. em contextos de pesquisa ou de organização dos dados obtidos durante o estudo. É preciso reconhecer a necessidade de uma mudança de postura em relação ao uso das tecnologias pelas escolas, que geralmente acontece de forma meramente instrucional. Ensina-se, por exemplo, a utilizar o computador sem que haja a real necessidade de diagramar um texto para melhor comunicar aquilo que foi aprendido.
Sem dúvida, os recursos tecnológicos favorecem o desenvolvimento de uma série de capacidades e permitem o contato com linguagens variadas. A tecnologia eletrônica - televisão, videocassete, máquina de calcular, gravador e, principalmente, o computador - pode ser utilizada para gerar situações de aprendizagem com maior qualidade, ou seja, para criar ambientes em que a problematização, a atividade reflexiva, a atitude crítica, a capacidade de decisão e a autonomia sejam privilegiadas.
A simples presença de recursos tecnológicos na escola não é, por si só, garantia de maior qualidade na educação, pois a aparente modernidade pode mascarar um ensino baseado na recepção e na memorização de informações. A incorporação desses recursos tem de estar diretamente associada aos objetivos didáticos que se pretende alcançar em um projeto de trabalho.
Os projetos de trabalho não devem ser definidos em função dos recursos tecnológicos, mas, sim, incorporar esses recursos para a sua realização. Na medida em que os professores têm acesso a eles e aprendem a utilizá-los, também estão aprendendo a olhar produtos prontos de maneira mais crítica. Aprendem a tratar a informação recebida e a selecionar as informações pertinentes a que são submetidos diariamente.

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